No final dos anos quarenta, início de cinquenta, empenhava-se o exército brasileiro, com seu batalhão ferroviário, em completar a ligação de Porto Alegre a São Paulo. E os trilhos iam cortando os Campos de Cima da Serra na região de Vacaria em direção à Lages. E lá passavam pelos campos de grandes fazendeiros.
Pela fazenda da Jaguatirica, de propriedade dum tal de Herculano da Luz, cruzou o trilho em grande extensão. E o Dr. Herculano, que morava em Porto Alegre, determinou a construção de alambrados no decorrer da cerca, para proteger o gado, antes que chegasse o tal de trem.
Vindo de Porto Alegre, inspecionou o serviço e viu que não ia dar tempo: antes de terminar a cerca seria inaugurada a linha do trem! Então ele resolveu contratar diversos posteiros, para que, sabendo quais os rumos, os dias e horários em que o trem deveria passar, cuidassem de afastar o gado de perto dos trilhos.
Assim que, entre os posteiros, arranchou-se um tal de Chico Manco, tido como vadio e muito conversador. E, já na primeira viagem, deu-se a tragédia! Veio o trem e atropelou mais de uma dezena de cabeças de gado. Sabedor da má notícia, o Dr. Herculano foi aos fundos da fazenda tirar satisfações do Chico Manco:
- Mas como foi isso Chico?
E o posteiro, senhor de si, com a voz bem entonada explicou:
- Olha Dr... tivemo sorte!
- Como tivemos sorte?! Vem o trem e, na primeira viagem, lá se vão quinze cabeças de gado?!
- Tivemo sorte, Dr. Herculano, pois o bicho resolveu cruzá de cumprido! Pois se ele vem de atravessado não sobrava nem eu prá lhe contá a história.
Fonte: Causos do Boi Voador/Lisana e Paulo Bertussi via Página do gaúcho.